domingo, 15 de abril de 2012

Entrevista do Mês

Entrevista do mês é mais um dos projetos do Gabinete Estadual do RN "Palavras movem pessoas, exemplos arrastam multidões" e propõe-se a entrevistar irmãos e tios do Rio Grande do Norte, em um jogo rápido de 5 perguntas sobre diversos assuntos, sempre fazendo uma relação com a Ordem DeMolay.


3º ENTREVISTADO - WAGNER CUNHA (MARÇO DE 2012)
 
 
 
INTRODUÇÃO (Um pouco sobre o irmão entrevistado)
Chamo-me Wagner Lopes da Cunha, nascido e criado em Caicó, a mais bela cidade do Seridó, no já distante ano de 1976. Contador por formação, bancário por profissão, leitor compulsivo, apaixonado por astronomia, aprendiz de enólogo, um defensor arraigado do ensino público gratuito, laico e de qualidade, e por fim, mas não menos importante, um idealista incorrigível.
 Sou egresso do nosso sistema de ensino público, ex-aluno do Curso de Ciências Contábeis da UFRN, campus de Caicó, onde também cursei pós-graduação. Aventurei-me algum tempo depois no Curso de Filosofia da UERN, polo Caicó, que infelizmente não cheguei a concluir devido as minhas atividades profissionais.
Meu primeiro contato com a Ordem deu-se em 1992, através do irmão Rilvânio Alves, então colega de classe no Centro Educacional José Augusto. Por motivos outros, não me foi possível iniciar naquele período, fato que só ocorreu em 09/05/1993, um dia das mães, através do já saudoso irmão MC Luís Augusto Santiago Neto.
Durante minha trajetória como ativo, ocupei poucos cargos e funções, sendo as principais: 1º preceptor, tesoureiro, escrivão (algumas vezes), mestre de cerimônias, 1º conselheiro e mestre conselheiro. No Convento, hoje Priorado, Nobres Cavaleiros Potiguares, assumi, basicamente, a função de protocolista durante um longo período.
Em 1998, por convite do Tio Santiago, iniciei na Loja Maçônica Frank Shermann Land, aqui em Caicó, loja formada, na época, apenas por seniores DeMolay.
Participei do Conselho Consultivo do Príncipe do Seridó durante alguns anos após minha maioridade e também como secretário da antiga Oficialaria Executiva, por convite do irmão Joaquim Aprígio Neto, mas com crise ocorrida no SCODB, dei um pequeno intervalo em minhas atividades, retornando algum tempo depois na função de OE da 3ª. Região.
Algum tempo depois, recebi convite para compor chapa com o irmão Kleber Cavalcante na função de GME Adj., e por fim, no ano de 2009, eleito Grande Mestre Estadual, ápice de minha “carreira”.
Bem, basicamente, é isso.
 
 
PERGUNTAS

1 - O Tio teve a oportunidade de conviver com grandes nomes da ordem, simplesmente por ter sido iniciado no primeiro capitulo do Rio Grande do Norte e o quarto do País, como era a relação com essas pessoas que tanto contribuíram com nossa instituição?
R – Incorrendo no perigo de cair em redundância, os grandes nomes de nossa ordem são os mesmos que outros irmãos já citaram aqui. Porém, antes de nominá-los, devo confessar que me foi um privilégio conhecer uma parte dos homens, aliás, não só homens, mas mulheres também, que ajudaram a construir e sustentar nossa ordem durante seus primeiros anos.
Para começar, temos o Tio Mansur e a Tia Célia, sua esposa, duas pessoas extremamente empáticas, atenciosas e importantes para nossa história, já que foi o tio Mansur que trouxe a Ordem para o país. Outro nome tão importante quanto Mansur, mas pouco lembrado, o do Tio Wilton Cunha, GSN do SCODB durante muitos anos, um batalhador incansável e grande entusiasta DeMolay, sem ele, a Ordem não teria o mesmo brilho, todos temos uma grande dívida de gratidão para com esse abnegado maçom.
Localmente, temos inúmeros tios/irmãos que mereceriam ter seus nomes aqui lembrados, mas por uma lógica impossibilidade vamos citar aqueles com quem tivemos mais contato: tio Santiago e tia Joana, sua esposa, seria preciso um volume inteiro para discorrer sobre os feitos e realizações desse casal, que desde antes de conhecerem a ordem já contribuíam com a juventude através do trabalho com as Aldeias Infantis S.O.S. e outras entidades existentes aqui na região. A eles, devemos a criação, expansão e consolidação da Ordem DeMolay em solo potiguar. No oeste, temos Manoel Dino Filho, Josué Pedrosa, José Wilson, que exerceram cargos de delegado e/ou OE durante os anos mais importantes de nossa instituição. Já no leste, temos o tio Edilson Nunes, também delegado naquela região, outro abnegado que muito contribuiu para nosso crescimento.
Enfim, esses foram, muitas vezes, o porto seguro a quem nossos Capítulos e DeMolays recorriam quando a necessidade assim exigia. A eles, devemos todo nosso apreço.
 
2 – A Ordem DeMolay é um reflexo de nosso macro sistema, muitas vezes quanto mais dentro da “máquina” de nossa instituição estamos, mais percebemos o quanto nós cometemos os mesmos vícios que aqueles que criticamos tanto cometem. O mundo carece de mais pessoas que lutem pelo correto e combatam o errado. Diante disso, comente acerca desse reflexo e sobre a carência de pessoas que lutam em prol do correto.
R - Qualquer instituição é, sem sombra de dúvida, o reflexo de seus membros. Com DeMolay isso não poderia ser diferente. Ao iniciarmos indivíduos ou ao trazermos líderes adultos para nosso meio, também trazemos suas histórias de vida, sua bagagem cultural e sua forma de ver o mundo.
 Algumas vezes, seja por escolhas mal realizadas ou por displicência colocamos em nosso meio pessoas que nem sempre contribuem de forma positiva para nosso progresso e que, muitas vezes, agem de forma totalmente contrária ao que preceituamos. No entanto, são uma minoria. O processo de correção de erros é longo, vícios não são remediados em pouco tempo. O que precisamos é que os bons continuem e que não esmoreçam diante das adversidades e com seus exemplos ensinem o que é correto e o que de bom tem nesse mundo.
   O egoísmo, o individualismo, a sanha de vencer a qualquer custo, esses são os problemas a serem combatidos para que as pessoas lutem em prol da evolução, lutem para melhorar o mundo e não para destruí-lo. Espero ter respondido a pergunta.
 
3 - Sobre os exemplos presenciados na Ordem DeMolay. Qual deles mais lhe marcou profundamente?
R – O que relatarei aqui não é necessariamente um exemplo, creio que seja mais uma lição ou algo do gênero, mas está marcado em minha mente profundamente e é o que me veio nesse momento. Alguns anos atrás, retornando de uma viajem a Apodi, eu, tio Joaquim e tio Santiago, nós paramos em uma cidade próxima a Caicó para comprar água. Enquanto os tios bebiam, eu aproveitei e comprei um sorvete. Desembrulhei, comecei a sorver a guloseima enquanto ficava com a embalagem na minha outra mão. Nisso, o pessoal terminou sua água e nada de entrar no carro pra irmos embora. Eu pensava: “o pessoal tá esperando o quê?”, “tô doido para chegar em casa e o pessoal aí de boa!”. Bom, o tempo passou, eu terminei o sorvete e fui até uma lixeira jogar a embalagem vazia, quando eu viro para retornar ao carro, tio Santiago sai com essa: “menino, eu estava só esperando pra saber o que você iria fazer com essa embalagem, queria ver se sua geração está mesmo educada o suficiente para tomar conta desse mundo”. Depois disso, fomos para casa, e eu, ganhei uma lição para o resto da vida: a educação é que faz a diferença.

4 - Por algumas vezes, em debates sobre a Ordem, a vida e diversos outros assuntos, fui questionado em alguns deles sobre a Ordem se parecer muito e até mesmo ser ou não uma religião. Isso tudo em detrimento a vários aspectos, como; possuir um Ritual, ter encontros, passar ensinamentos sobre Deus, ter uma "doutrina", dentre tantos outros aspectos. Comente sobre esses aspectos e faça suas considerações sobre este tão tradicional questionamento.
R - Realmente, eis um assunto que parece não esgotar-se, mas que já deveria ser ponto pacífico entre nossos membros.
Apesar de, aparentemente, termos elementos que são comuns à religião, estamos longe disso. Para começar, o que é religião? Em termos simples, a religião é um conjunto de hábitos, procedimentos, doutrinas etc. que tem por fim a “re-ligação” com o divino, fundamentalmente calcados em preceitos metafísicos, ou seja, além do mundo humano. Outros elementos comuns às religiões são: os mitos cosmogônicos (a criação do mundo), a queda do homem (o pecado), a remissão do pecado, a salvação, o hierofante etc. Quais desses elementos estão presentes na Ordem?  Temos rituais? Sim, temos, mas um ritual é apenas um conjunto de palavras, formalidades e codificações comuns aos mais diversos ramos da atividade humana. Lembrem-se: Os propósitos dos rituais são variados. Eles podem servir tanto para fins religiosos como para o estabelecimento de laços sociais. Os outros pontos apresentados também não compõem elementos intrínsecos a religião, eles são comuns a qualquer empreendimento humano desde que tivemos consciência de nós mesmos ou, em nosso caso, são valores próprios que nossos fundadores transferiram para nossa Ordem de forma consciente ou não, e aí entram as suas crenças pessoais.  Sim, somos religiosos em alguns princípios, mas definitivamente, estamos longe de sermos uma religião.
 
5 - O que é a Ordem DeMolay para você?
R – Meus caros, eis uma pergunta realmente difícil de ser respondida. É uma instituição de múltiplas facetas e que pode ser vislumbrada das mais diferentes formas.
Particularmente, a vejo como complemento para a vida, uma espécie de escola de educação social.
A família molda nossos aspectos mais íntimos, oferecendo a primeira e mais importante educação de nossas vidas, aquela que constituirá a base de nosso caráter. Já a escola, essa nos proporciona uma educação formal, nossas primeiras letras etc. em suma, uma educação acadêmica. Mas a Ordem DeMolay nos proporciona algo mais, através dela nós podemos interagir com a sociedade que nos cerca, conhecer as necessidades de pessoas infinitamente menos afortunadas que nós, e por ela, podemos mitigar problemas que envolvem todos nós, permitindo enxergarmos o quanto precisamos uns dos outros.