sábado, 7 de setembro de 2013

III Concurso Literário Jacques DeMolay - RESULTADO

Meus irmãos,
no último CNOD, a Academia Brasileira DeMolay de Letras (ABDL) divulgou o texto vencedor do III Concurso Literário Jacques DeMolay. Agora, ocupará a cadeira de nº10, o irmão Victor Hugo Ferreira Silva, sênior demolay do Capítulo Iturama nº195 da cidade de Iturama-MG. 
O texto vencedor, como também, os demais textos inscritos no concurso, estão no III Livro da ABDL, que já encontra-se disponível para compra no site do demolayshop.com, ao preço de R$ 15,00.
Quero agradecer a todos os irmãos do RN que se inscreveram, em especial, aos irmãos Sávio Breno e Jairo Borges, que representaram nosso Capítulo no concurso.
Este ano o concurso alcançou o número de 87 inscrições! Espero que esta procura perpetue para o próximo ano.

Com vocês, o texto vencedor:

Nuvens vermelhas

— Mil e quinhentas palavras?! – praguejou diante da indiferente tela do computador pessoal. — Você tá de brincadeira! – mas não, o edital do Prêmio Jacques DeMolay era terrível e amargamente sério. Os candidatos a uma cadeira na Academia Brasileira DeMolay de Letras deveriam submeter um texto de, no máximo, mil e quinhentas palavras. Mais ou menos o pesadelo de qualquer quase-escritor não exatamente conhecido por um laconismo brilhante. Não exatamente conhecido por nada e de forma alguma, diga-se de passagem.
     Girou o rosto e olhou para a sem graça paisagem fornecida pelo seu apartamento no térreo. Em tempos outros, habitara um quarto andar de vista maravilhosa e inspiradora, especialmente nos fins de tarde do céu carregado por nuvens vermelhas das chuvas do verão ribeirão-pretano. Agora, tudo era térreo e sem graça. Insosso. Feito um texto de mil e quinhentas palavras.
     Puxou os cabelos castanhos e disse um par de expressões recrimináveis por qualquer sexto preceptor de respeito. Mas, diabos, se um texto de mil e quinhentas palavras não merecia um escape à sexta vela, o que mereceria? Pensou, então, assim bem de relance, em escrever uma música. Mas não. Não porque letras de música eram feito poemas e, por algum motivo esquisito, ele só conseguia escrevê-los em inglês. Acho que a Academia Brasileira DeMolay de Letras desclassificaria um texto em inglês. Mesmo que tivesse só mil e quinhentas palavras.
     Então ele poderia fazer aquilo que sempre fez: reclamar. Um dos traços mais marcantes de sua personalidade, claro. Já rascunhava, mentalmente e ainda puxando os fios castanhos do cabelo meio-liso-meio-encaracolado, uma carta. Iria enviá-la ao chefão, ao líder, ao Imortal Número Um. Aliás, como é que se pode conceder um título tão pomposo feito Imortal a alguém baseado em um texto de mil e quinhentas palavras? Sim, sim! Abriria sua carta com essa pergunta, sem dúvida. O edital desse ano já havia sido lançado, mas certamente conseguiria convencê-los a mudar as regras do Prêmio para o ano seguinte. Seria tão perfeitamente coerente em sua argumentação que os irmãos responsáveis pela organização do evento ficariam com os queixos tocando as bolas de seus tornozelos. Tornozelos, claro.
     Abriu um documento novo e alongou os dedos, girando o pescoço para os lados e ouvindo a relaxante sinfonia do estalar de ossos. O marcador piscava. Aparecia. Sumia. Aparecia de novo, apenas aguardando os comandos que preencheriam uma página em branco com algo que certamente superaria mil e quinhentas palavras. Afinal, seu raciocínio circular e vocabulário rebuscado não poderiam ser contidos por algo tão simplório como um limite de caracteres. Que tipo de escritor pode ser bom e breve?
     Digno e estimadíssimo irmão, começara. Mas, veja só você, mal havia começado e alguma coisa em sua cabeça gemeu em protesto. Aquela voz esganiçada, aguda, que fazia os tímpanos tremerem mais de medo do que qualquer outra coisa. Boa e velha Consciência, lá estava ela. E ela sabia que, na verdade, a carta era uma fuga. Porque era isso que ele sempre fazia: fugir. Os textos quilométricos abarrotados e escondidos na gaveta da mesma escrivaninha sobre a qual agora repousavam os cotovelos eram prova mais que suficiente disso. Corria das avaliações de qualquer um que julgasse, ainda remotamente, mais qualificado que si próprio. Na verdade, temia as críticas de qualquer sujeito que lesse um pouco mais do que rótulos de xampus.
     Se não fossem mil e quinhentas palavras, seria outra coisa – dizia a Consciência. O dedo indicador apertou o backspace e lá se foi o início da carta. O importante – implacável, a Consciência continuava – é que seria alguma coisa, não seria? Alguma justificativa plausível o bastante, repetida à exaustão até convencer todos os cantos do cérebro. Mas não, não a mim. Porque eu sei – e você também sabe, meu querido – a verdade. Então, por favor, vamos dar a cara a tapa.
     Vamos dar a cara a tapa, ela disse.
     A cara a tapa, ele repetiu. Mas bem baixinho. Seus olhos piscaram e o marcador preto também. Ambos aguardavam o movimento dos dedos, entidades que, no ato da escrita, possuíam vida própria, caminhos pré-determinados e que o cérebro desconhecia. Igual voltar a pé da escola para casa todos os dias no ensino fundamental. E, depois, no ensino médio, quando havia Ribeirão Preto e seu fim de tarde enevoado-e-rubro, vermelho da poeira que a chuva levanta, uma beleza para se escrever ao lado da janela. Mas agora tudo era térreo.
     Mas o térreo pode ser bom. Não há escadas para subir com as compras do fim de semana.
     Mil e quinhentas palavras podem ser boas.

     Os dedos lépidos escreveram aquilo que há pouco havia sido motivo de tanto sofrimento. Com bom humor criativo, ele leu para si:
— Mil e quinhentas palavras?! – praguejou diante da indiferente tela do computador pessoal. — Você tá de brincadeira! – mas não, o edital do Prêmio Jacques DeMolay era terrível e amargamente sério...
     Sorriu e olhou pela janela. Não era fim de tarde. Não havia nuvens vermelhas.

Irmão Victor Hugo recebendo posse do tio Rodrigo Anjos, ex-presidente da ABDL e atual GME-MG


Academia Brasileira DeMolay de Letras - Atuais Membros:

1- Eduardo Augusto Foutora de Freitas Raslan (MS) 2010
2- Rodrigo Otávio dos Anjos (MG) 2010
3- Rogério Laguna (MG) 2010 
4- Ronaldo Desidério Castange (SP) 2011
5- Gills Lopes Macêdo Souza  (PB) 2011
6- Carlos José Crêspo (PB) 2011 - Presidente
7- Rafael Primus Aguiar (PR) 2012
8- Lucas Richter de Oliveira Dantas (RN) 2012
9- Emerson Rafael Cunha Gontijo (MG) 2012 - Vice-presidente
10- Victor Hugo Ferreira Silva (MG) 2013